Intervenção da Associação na Assembleia Municipal no dia 23 sobre o Moinho Pequeno.
Moinho Pequeno Ex Libris dos Moinhos de Maré do Barreiro
A 20 de Março de 1652 o Moinho de Maré Pequeno, também conhecido por Moinho de S. Roque, que possuía três engenhos, foi arrendado por D. Antónia de Morais a João Carvalho. Esta é a primeira notícia que se conhece sobre o moinho. Farinhou cereais e massas alimentícias. Pertenceu a José Pedro Costa. Em 1992 continuava a ser propriedade da Família Costa , quando a CMB acordou com esta a sua compra, depois de realizadas as partilhas, facto que só veio a acontecer em 2005, dada a dificuldade de entendimento entre os mais de 20 herdeiros. Em 2008 iniciou-se um processo de classificação entre CMB, DRC de Lisboa e Vale do Tejo e DJPC que se concluiu em 2017 com a Classificação de SIM, Sítio de Interesse Municipal, abrangendo Alburrica, Ponta do Mexilhoeiro e Quinta do Brammcamp, classificação por razões ambientais, paisagísticas e moageiras.
De facto, o Concelho do Barreiro teve a laborar a maior concentração de moinhos de maré do Tejo, a segunda maior do País. Os moinhos de maré do Barreiro foram essenciais no abastecimento de Lisboa e dos Fornos em Vale de Zebro, onde se confeccionava o “biscoito” alimento base dos navios das “descobertas”, da Armada Real e dos Fortes de Costa. Estes engenhos tiveram um papel fundamental no desenvolvimento do País, sobretudo durante o largo período da Expansão Portuguesa.
Curiosamente com tantos moinhos de maré, este foi o mais iconografado por fotógrafos e por pintores, e continua a ser o mais presente na memória dos Barreirenses. Se vos perguntássemos se poderíamos derrubar um dos moinhos de vento de Alburrica, responderiam, de imediato, que não, pois caros concidadãos a CMB derrubou a 13 de Junho de 2018, o Ex libris dos moinhos de maré do Barreiro.
Aquilo que mais choca nesta situação criada com a súbita acção da CMB, não é só o arrasamento fulgurante do moinho. É o deficit democrático profundo que marginalizou esta Associação e a população em geral, que pela lei em vigor deveriam ter sido consultadas, deveriam ter merecido esse respeito, dado que o nosso património cultural é um bem de todos nós, que nos define identitariamente e que se construiu com o trabalho e os contributos financeiros dos nossos antepassados, em sucessivas gerações. A sua existência futura passa por todos nós, enquanto fiéis depositários desta herança, que nos cabe salvaguardar, reutilizar, divulgar na sua singularidade como forma de nos afirmarmos no todo nacional, e passa pelo contributo financeiro que todos damos, através dos impostos que pagamos para que haja orçamentos governamentais e municipais.
Porquê tanta pressa? Porquê tanta falta de informação? Querer-se-ia colocar a população perante um facto consumado? Evitar um debate? Foram cumpridos todos os preceitos legais para a demolição de um edifício classificado? Não se percebe a quem beneficia tal comportamento?
Assim esta Associação, ao abrigo do nº4, do artigo 10º da Lei nº 107/2001, de 8 de Setembro e dos artigos 65ª, nº1, alínea c), 68º, nº2, alínea b) e 83º, nº3, todos do Código de Procedimento Administrativo, requereu que lhe fosse passada certidão autenticada de todos documentos que compõem o processo administrativo respeitante à obra de demolição do Moinho Pequeno.
Não nos move nenhum pressuposto fundamentalista de querer preservar todos os moinhos de maré na sua traça integral, nem nos seus mais autênticos processos construtivos, nem que tenham todos de ser
unidades museológicas moageiras, seria insensato e absurdo, porém em toda esta área classificada de SIM (dada a sua importância paisagística, ambiental e moageira) terá de haver um moinho com tal valência e tudo o que se edificar não pode colocar em risco as características únicas a nível da paisagem.
O Moinho Pequeno, por tudo o que foi dito, deveria ser o escolhido e também pela sua localização num sítio a preservar ambientalmente e, ainda, pela sua dimensão que tornaria menos cara a intervenção.
Temos que contar com a singularidade do nosso património e o seu forte contributo para o desenvolvimento da indústria turística um moinho como unidade museológica é uma fonte de atracção turística, se for unicamente um café, um restaurante não preencherá esse objectivo.
A Associação Barreiro – Património, Memória e Futuro espera que estas razões sejam compreendidas e se abra um processo de discussão, ampla, participada e democrática, sobre o assunto, única forma de ajudar a encontrar caminhos mais rasgados de visão do património, e do seu contributo para o desenvolvimento sustentado da nossa terra.
Associação Barreiro – Património, Memória e Futuro
Barreiro, 23 de Junho de 1018
Belíssima intervenção da AB-PMF na Assembleia Municipal do Barreiro, em 23 de Junho de 2018 (não nos longínquos idos de 1018), sobre o Moinho Pequeno, ex-librais dos Moinhos de maré do Barreiro.
“Curiosamente com tantos moinhos de maré este foi o mais iconografado por fotógrafos e pintores e continua a ser o mais presente na memória dos barreirenses” e ainda hoje o mais amado, o mais presente nos corações dos barreirenses, por nos ter sido legado pelos nossos pais e avós que neles trabalharam, viveram e morreram por eles. É a herança que temos de preservar.
Espero que os “nossos” representantes na autarquia compreendam, sintam isto, porque é a nossa identidade como barreirenses.
Se ainda não o sentiram, então promovam o debate público a que estão obrigados e de coração (se o tiverem) aberto sintam as emoções e as paixões dos que representam?!