CMB Arrasa Moinho Grande!
O evitável aconteceu: o Moinho Grande foi arrasado
A Associação Barreiro Património Memória Futuro (ABPMF), embora tendo direito legal, segundo a Lei de Bases do Património Cultural, a ser informada e participar em projectos nesta área, teve de solicitar por duas vezes a consulta do projecto de recuperação do Moinho Grande, da Serração ou do Burnay, sítio em Alburrica. Na consulta, ficou preocupada e endereçou à CMB pedido de esclarecimento sobre várias questões, até hoje sem resposta.
E a obra começou e o evitável aconteceu: o moinho grande foi arrasado. Já assim tinha sido com o Moinho Pequeno. Desta forma, a “mina de ouro” que é o nosso património arqueológico industrial desaparecerá.
Alguns dirão que estava em ruína, que o local estava abandonado, que era tempo de apagar estas cicatrizes. É verdade que é necessário o restauro e conservação deste tipo de paisagens industriais, mas não podemos, nem devemos fazê-lo ignorando a sua importância, desconhecendo as boas práticas existentes em muitos lados e a autenticidade da intervenção relativamente às paisagens industriais.
Segundo a carta Carta de Nizhny Tagil sobre o Património Industrial, entre outras cartas que protegem o património da qual foram subscritas por Portugal, refere: “Os sítios mais importantes devem ser integralmente protegidos e não deve ser autorizada nenhuma intervenção que comprometa a sua integridade histórica ou a autenticidade da sua construção…..”
Alburrica é um caso único no País, merecia atenção, estudo, cuidado, sensibilidade, atributos que parecem escassear! E, como doí, quando se tem a consciência de que o que está a ser feito não respeita a componente ambiental (Classificação de REN: restinga, nas praias; zona alagadiça, na Braamcamp, que foi agora danificada; zona húmida /sapal, nas caldeiras), nem a biodiversidade, nem os engenhos de moagem de maré e vento, “monumentos de arqueologia industrial” (Nabais, António), que, no seu restauro, não podem ser arrasados, bem como as memórias vivas.
Em Alburrica está concentrada parte muito significativa da nossa história e património, da nossa identidade fundamentais ao desenvolvimento sustentado da nossa terra, à coesão social e à criatividade.
Não se inventa do nada em nenhuma área do conhecimento humano, não se podem criar futuros sustentados sem conhecermos o passado, o nosso futuro é a sua recriação com inovação. Caso contrário, a nossa paisagem torna-se plástico, é falsa e superficial e nós vamos ficando também falsos e superficiais, desenraizados, alienados. Certamente que ninguém quer isto, só quem desconhece a importância do passado que herdámos e a existência de boas práticas.
Sobre essas boas práticas, se consultarem as cartas e leis referentes ao património cultural, verão que não existem versões de arrasamento de Moinhos em conservação de património cultural. O Coliseu de Roma, tem partes em ruína, nunca passou pela cabeça de ninguém arrasar as suas paredes para fazer novas.
Como constatamos, não vale tudo, não se pode fazer por fazer, não é igual a estender betão, trata-se do património que, com as suas mãos, os nossos antepassado construíram e nos legaram. Cumpre-nos defendê-lo, para que tenhamos um futuro mais humano, socialmente mais coeso, e, economicamente, melhor, contribuindo de forma séria para os efeitos das alterações climáticas.
22/06/2021
Associação Barreiro Património Memória Futuro