Património Religioso

Barreiro “Rectaguarda Logística da Expansão Portuguesa” Séculos XV A XVI

Durante a Expansão Portuguesa, o Barreiro teve um papel muito importante a nível nacional como “retaguarda logística dos descobrimentos”. Aqui vamos encontrar, nesse período, a maior concentração de Moinhos de Maré do Estuário do Tejo, no qual, por sua vez, se encontrava a segunda maior concentração do País. Nestes e em todos os moinhos dos concelhos vizinhos moía-se farinha para alimentar o Complexo Real de Vale de Zebro onde era confeccionado o biscoito, alimento base dos marinheiros durante o período das descobertas, das armadas reais e dos fortes de costa. Este pão ázimo, cozido duas vezes e por isso fortemente desidratado, em Portugal, só era confeccionado em Vale de Zebro e na Porta da Cruz.
Para o fabrico do biscoito era necessária uma forma própria, a forma do biscoito, fabricada nos Fornos Cerâmicos da Mata da Machada. Nestes fornos, para além desta forma de uso industrial, fabricavam-se utensílios de carácter doméstico, pesos de pesca e a as formas de purga do açúcar, designadas por “Pão de Açucar”. Estas eram fabricadas em série e destinadas à exportação para os engenhos açucareiros da Madeira, Canárias e Brasil.
Na Ribeira do Coina, no lugar da Telha Velha, foi identificado um estaleiro de construção naval, denominado de Ribeira das Naus do Coina, que trabalhava em complementaridade com a Ribeira das Naus em Lisboa.
Em torno do Complexo Real “estabeleceu-se uma rede de relações sociais, liderada por uma elite de funcionários da coroa, administradores dos fornos, almoxarifes, mestres do Biscoito, mestres dos fornos, moleiros, biscoiteiro, de cuja influência ainda restam alguns vestígios, como a antiga casa senhorial situada no largo da igreja”, ou a Quinta da Estalagem. Bem como há notícia de gentes vindas de muitos sítios do mundo, dando ao lugar uma feição cosmopolita.
A esta população e trabalhando nos fornos, nos estaleiros ou nas casas dos mais abastados, junta-se uma comunidade de escravos que, com o passar do tempo se miscigenou. A sua presença encontra-se atestada pela existência de uma Confraria de Nª Sª do Rosário dos Homens Pretos, sediada na Igreja de Nª Sª da Graça de Palhais em 1553.