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CENTRO INTERPRETATIVO DA REAL FÁBRICA DE VIDROS DE COINA

Recordar a História Projectar o Futuro

A Real Fábrica de Vidros e Cristalinos de Coina insere-se na polítida de desenvolvimento industrial  do rei D. Jão V, a sua construção integra-se num período de grande actividade manufactureira deste reinado (1714-1742).

Foi  mandada construir de raiz por este rei, em 1719, no então concelho de Coina, sendo “uma das primeiras experiências modernas da manufactura vidreira na Península Ibérica, anterior à fundação da Fábrica de Santo Ildefonso, em La Granja (Segóvia), inaugurada uns anos depois, em 1727, com o contributo de artífices estrangeiros que trabalharam em Portugal.”( Custódio Jorge, pág.20, “ A Real Fábrica de Vidros de Coina (1719-1747) e o vidro em Portugal nos séculos XVII e XVIII”, ed. Ministério da Cultura,Instituto Português do Património Arquitectónico, Câmara Municipal do Barreiro, jan,2002)

De acordo com o mesmo investigador os produtos vidreiros da Real Manufactura foram conhecidos no País, no Brasil, em Espanha e na China, onde chegaram quando  D. João V pretendeu renovar as realações com o Império do Oriente.

Relativamente à sucessiva utilização do espaço onde se encontra a estação arqueológica do vidro Jorge Custódio refere, na obra já citada “Numa obra manuscrita da autoria de Filipe Néri da Silva Coutinho, denominada Passeios Divertidos, o autor, que se dedica à apresentação instrutiva dos metais de Lisboa e seu termo, refere-se à mina de azougue de Coina e ao poço que” fora da Fábrica de Vidros de Coina”, manifestando um conhecimento da antiga manufactura, cinquenta anos depois da sua demolição. Aliás o manuscrito é contemporâneo  da redescoberta da mina de azougue de Coina, estabelecimento que prometia “abundancia” e cuja mina estava em estado nativo. As crustas tenues de Mercúrio Corneo que envolvem os torrões de area mostrão a extenção em que ele se acha disseminado, tanto no poço do Concelho, como da antiga fábrica de vidros hoje de chitas.”

A fábrica de chitas e zuartes foi montada a partir de 1781 e laborou até 1814.  Durante a campanha arqueológica realizada com a direcção científica do professor Jorge Custódio, ficou demonstrado que esta fábica de chitas tem os seus alicerces contruidos  sobre as estruturas da fábrica de vidro. Sucedeu-lhe a estamparia do algodão que existia em 1822, embora estivesse transitoriamente parada.

No arrolamento mandado realizar pelo almoxarife dos Fornos de Vale de Zebro, “Em 1760 os edifícios da Real Fábrica de Vidros encontravam-se em ruína… O abandono, o “rigor do tempo” e o terramoto de 1755 tinham causado aquele estado da fábrica.” O arrolamento também nos permite saber que era constituída por nove edifícios e tinha um muro com três portões e um poço anterior à sua construção, esta descrição bem como a explicação construtiva que a acompanha permite-nos pensar na existência de uma grande fábrica.

Em 1746 John Beare, administrador da fábrica de vidros de Coina, transferiu-a para a Marinha Grande, por falta de madeira combustível e sabemos que os primeiros catálogos da fábrica na Marinha Grande eram o catálogo de Coina, bem como sabemos que a diversidade de experiências realizadas em Coina e as diferentes tipologias de objectos e de vidros permitem que  a Estação Arqueológica do Vidro de Coina seja, ainda hoje, considerada internacionalmente como uma das mais importantes da Europa.

Em 31 de Dezembro de 1997 esta manufactura foi classificada como Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto de Lei 67/97, pertencendo os terrenos, ainda hoje,  aos herdeiros da família Xavier de Lima.

Em 1999, a Câmara Municipal do Barreiro voltou  a solicitar o apoio do professor Jorge Custódio para iniciar uma nova fase com duas finalidades:instalação de um Centro Interpretativo e Publicação do Livro “A Real Fábrica de Vidros de Coina(1719-1747) e o  vidro em Portugal nos séculos XVII e XVIII”, fruto das escavações realizadas na década de 80, dirigidas cientificamente por Jorge Custódio e do seu aturado estudo de investigação.

Com esta finalidade a Câmara apoiou a edição do livro, realizada pelo  Instituto Português do Património Arqueológico – Ministério da Cultura, lançado em Janeiro de 2002 na Biblioteca Municipal do Barreiro, e solicitou o desenvolvimento de um projecto de Centro Interpretativo em Coina.

O projecto tinha como objectivo central desenvolver um programa que possibilitasse de forma sistemática e estruturada o conhecimento da real manufactura, integrando acções e materiais de suporte com carácter lúdico,pedagógico e cultural destinados a públicos diferenciados.

O progama previa  recuperar a ruína do edifício da Fábrica de Estamparia, permitindo a instalação de um centro de interpretação  com a história das diferentes manufacturas que existiram no espaço, bem como da Mina de Azougue,  mas com especial relevo para a manufactura vidreira.

Preservar a estação arqueológica existente de forma a que fosse possível aprofundar o seu estudo e realizar concomitantemente campos de férias para estudantes.

Montar uma oficina de restauro e fabrico de réplicas, mas também de novar tipologias ligadas à evolução do vidro e a novos designs, abrindo a possibilidade de criação de uma pequena empresa criativa.

Requalificar o espaço urbano envolvente.

O projecto, na altura, contava legalmente com a participação do IPPAR.

Seria importante voltar a este tema pela sua importância e pela possibilidade que abre de encontrar formas de dinamização das pequenas economias locais das zonas mais períféricas do Concelho, mas que foram no passado territórios fundamentais e pujantes no desenvolvimento do território que, hoje, configura o Barreiro.

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